Mês: dezembro 2015

Trecho de entrevista com Jacques Derrida sobre hospitalidade, o outro, xenofobia, etc.

DerridaPipeLe Monde – Em seu último livro, De l’Hospitalité, o senhor opõe “a lei incondicional da hospitalidade ilimitada” “às leis da hospitalidade, esses direitos e esses deveres sempre condicionados ou condicionais”. O que o senhor quer dizer com isso?

Jacques Derrida – Entre essas duas figuras da hospitalidade é que se deve assumir, com efeito, as responsabilidades e decisões. Prova temível, pois se essas duas hospitalidades não se contradizem, elas continuam sendo heterogêneas, no momento mesmo em que se convocam uma à outra, de maneira embaraçosa. Nem todas as éticas da hospitalidade são as mesmas, provavelmente, mas não existe cultura, nem vínculo social, sem um princípio de hospitalidade. Este comanda, faz mesmo desejar uma acolhida sem reserva e sem cálculo, uma exposição sem limite àquele que chega. Ora, uma comunidade cultural ou linguística, uma família, uma nação, não podem deixar de suspender, ou mesmo deixar de trair o princípio da hospitalidade absoluta: para proteger um “em-casa”, provavelmente, assegurando o “próprio” e a propriedade contra a chegada ilimitada do outro; mas também para tentar tornar a acolhida efetiva, determinada, concreta, para operacionalizá-la. Daí as “condições” que transformam o dom em contrato, a abertura em pacto policiado; daí os direitos e os deveres, as fronteiras, os passaportes e as portas, daí as leis a propósito de uma imigração cujo “fluxo”, como se diz, precisa ser “controlado”.

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