Mês: maio 2014

Balzac (1789-1850) -Pensamentos

A paixão é toda a humanidade. Sem ela, a religião, a história, o romance e a arte seriam inúteis.

A perfeição da beneficência consiste em apagar-se, de modo que o beneficiado não se acredite inferior àquele que o beneficia. Esse devotamento oculto comporta infinitas doçuras.

Nossa vida é composta de certos movimentos regulares, tanto para o corpo quanto para o coração. Todo o excesso ocasionado nesse mecanismo é uma causa de prazer ou de dor. Ora, o prazer ou a dor é uma febre de alma essencialmente passageira, porque ela não é suportada por muito tempo. Fazer do excesso a sua própria vida não será viver doente?

Um ódio confessado é um ódio impotente.

A maioria dos dramas reside nas ideias que formamos das coisas. Os acontecimentos que nos parecem dramáticos nada mais são que os assuntos que nossa alma converte em tragédia ou em comédia, ao sabor do nosso caráter.

Todo grande sentimento é um poema de tal modo individual que mesmo o vosso melhor amigo não se interessa por ele. É um tesouro que é somente nosso.

A poesia é um dos encantos da vida. Ela não é toda a vida.

O silêncio é, para os seres atacados, o único meio de triunfar: ele esgota as investidas brutais dos invejosos, as selvagens escaramuças dos inimigos. Ele proporciona uma vitória arrasador e completa. O que existe de mais completo que o silêncio? Ele é absoluto. Não será uma das maneiras de ser do infinito?

Tudo é verdadeiro e tudo é falso! Existem para as verdades morais, assim como para as criaturas, alguns meios nos quais elas mudam de aspecto a ponto de serem irreconhecíveis.

A vida habitual faz a alma, e a alma faz a fisionomia.

Os deveres não são sentimentos. Fazer aquilo que se deve não é fazer aquilo que agrada. Um homem deve ir morrer friamente pelo seu país e pode dar com felicidade a sua vida por uma mulher. Uma das regras mais importantes da ciência das maneiras é um silêncio quase absoluto sobre si mesmo. Finja algum dia falar de você para alguns meros conhecidos; entretenha-os com seus sofrimentos, com os seus prazeres, com os seus negócios. Você verá a indiferença sucedendo ao interesse fingido. Depois, surgindo o tédio, se a zeladora do prédio não lhe interrompe polidamente, todos se afastarão sob pretextos habilmente arranjados. Porém, quer agrupar em torno de você todas as simpatias? Seja considerado um homem amável e confiável, entretenha-os com eles próprios, busque um meio de pô-los em cena, mesmo levantando questões aparentemente inconciliáveis com os indivíduos. Os rostos se animarão, as bocas lhe sorrirão, e quando você tiver ido embora todos vão elogiá-lo. Sua consciência e a voz do seu coração lhe dirão onde começa a vileza das adulações e onde termina a graça da conversação.

Cultive essa fatal ciência do mundo: a arte de escutar, de falar, de responder, de se apresentar, de sair. A linguagem precisa, aquele não sei quê que não é superioridade, tanto quanto o hábito não constitui o gênio, mas sem o qual o mais belo talento nunca será admitido nele.

Esquecer é o grande segredo das existências fortes e criadoras. Esquecer à maneira da natureza, que não conhece nenhum passado, que recomeça a cada instante os mistérios de suas infatigáveis criações.