Mês: dezembro 2019

Encontramos um norte (ignoremos a matéria) – Texto sobre crítica de cinema, por Roberto Cotta (30/07/2018)

Naquela noite leu-se uma peça bastante obscura de Lícofron, que me agrada por suas loucas justaposições de sons, alusões e imagens, e pelo seu complexo sistema de reflexos e ecos.

(Marguerite Yourcenar, “Memórias de Adriano”)

 

A tradução mais patente sobre o establishment do cinema contemporâneo pode ser encontrada na avidez de críticos, professores, pesquisadores, curadores e cineastas em sustentarem uma lógica na qual as demandas extrafílmicas têm importância superior à própria matéria cinematográfica. Ao redor do mundo, nas três últimas décadas, tal condição vem sendo entranhada de modo irrevogável, carregando consigo estruturas discursivas muito bem articuladas e inclinadas a defenderem uma valorização dos filmes guiada por fatores que não necessariamente os constituem.

Por conseguinte, essa engrenagem tem sido capaz de mensurar as qualidades e deficiências de qualquer obra, até mesmo antes de sua estreia. Na medida em que os filmes surgem (caso, de fato, consigam), tem-se a impressão de que os olhares lançados a eles, muitas vezes, dispensam suas construções visuais, seus registros sonoros, seus critérios narrativos, sua inventividade estética, suas estruturas documentais, ficcionais, experimentais ou a forma como abordam seus próprios temas. Nesse primado de axiomas, o que vale mesmo são os pontos de partida, ou seja, aqueles protocolos preestabelecidos que indicam o que pode ou não constar numa obra, para que seja bem aceita em um determinado circuito.

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Um Novo Mundo (sobre o destino das imagens) – por Luis Carlos Oliveira Junior (2007)

UM NOVO MUNDO (sobre o destino das imagens)

Fazer a distinção entre um pôr do sol de King Kong (Peter Jackson), quando o céu se vê tomado de um dourado tão “natural” quanto o gorila gigante em si, e as dezenas de pores do sol que aparecem em O Novo Mundo(Terrence Malick) não é muito diferente de perceber aquilo que separava, na pintura do século XVI, uma concepção geométrica do espaço, alcançada pelos poderes da abstração racional, de uma concepção ecológica ou empírica, segundo a qual o espaço seria um produto do sol, da terra, do fluxo e dos gradientes. O pôr do sol em CGI de King Kong funciona como antítese da profissão de fé de Malick, cuja sensibilidade e paciência para filmar a natureza são levadas a níveis sacrificiais. Imagem-modulação, de um lado (agenciada pela linguagem da previsão e do cálculo), e imagem-traço, do outro (a realidade de um reflexo, resguardando algo da “dificuldade e do esforço do mundo”).

Ecologia: frisemos este termo. Pois se houve um debate que, dos anos 80 para cá, cresceu e se acentuou em paralelo ao aperfeiçoamento das tecnologias digitais, foi justamente o debate sobre o fim de alguns recursos naturais e, no limite, o fim do mundo tal como o conhecemos – daí o alerta para preservá-lo. Ao mesmo tempo, numa outra via de discussão, quem temia os novos rumos econômicos do cinema, cada vez mais domesticado, cada vez mais distante da sala escura e adaptado aos cômodos das casas, demonstrava também uma preocupação ecológica: era uma mudança radical de meio-ambiente o que os transtornava.

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Don Hertzfeldt Talks ‘World of Tomorrow Episode Two’ (AWN) May 16, 2018

Fonte: https://www.awn.com/animationworld/burden-other-peoples-thoughts-don-hertzfeldt-talks-world-tomorrow-episode-two

Chris Robinson: What was the starting point of the original World of Tomorrow? I know that you were maybe doing this to teach yourself digital, but how did you stumble upon this storyline. There’s an improvised feel to it. Did your niece’s “ramblings” help guide you towards a direction?

Don Hertzfeldt: I’d always wanted to write a science fiction story and “going digital” for the first time after twenty or so years was a great excuse to do it. The story I had in mind required a little kid and I didn’t want to fake it. You usually hear adults doing child voices in cartoons and it can be funny but it never feels real. it’s not the experience of having a conversation with a four-year-old, where every other thought is sort of out of left field. And getting that sense of spontaneity in animation, which is by nature the least spontaneous way to make a movie, is a really powerful thing. So while everything Winona said was unscripted (at that age her thoughts and reactions to things were still short and tidy enough to edit around and find a way to fit into my story), I rewrote Julia’s lines so her half of the conversations made sense, but for the most part I was able to keep that movie on the path I’d intended.

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